sábado, 12 de fevereiro de 2011

Restart moderniza o corte dos Beatles e lança moda


Banda de adolescentes alegres mantém um corte que combina com a música que fazem: o happy rock

Araujo Show, o cabeleireiro responsável pelo corte da família Restart
Os integrantes da banda teen Restart não se cansam de bradar que são felizes – eles fazem, afinal, o happy rock. Suas roupas são multicoloridas, suas poses são bem humoradas, seus cabelos... Bem, seus cabelos não poderiam ser mais alegres. Ao contrário dos tristes emos, que mantinham uma franja lambida escondendo a testa, os garotos do Restart gostam de exibir um corte que mais lembra uma explosão de contentamento: é um fio pra cada lado. Seria tudo culpa de uma tesoura mal afiada ou de mãos mal preparadas? Não mesmo. 

A criação tem dono – e o dono tem lucrado com seu feito. “Toda semana, pelo menos quatro garotos de todas as partes do país ligam para saber se aqui é o salão do Restart”, conta o cabeleireiro pernambucano Benedito Araújo, o Araújo Show, proprietário do salão que fica na luxuosa Villa Daslu, em São Paulo. Araújo cuida das madeixas dos integrantes da banda há quase dois anos. O cabeleireiro garante que os meninos já tinham um estilo que só precisou ser lapidado. A influência, diz ele, é o cabelo dos Beatles, o famoso moptop. 

Na versão Restart, o resultado é um corte desalinhado e que dá trabalho para manter. “Ele é bastante desfiado e deve ser refeito no máximo a cada dois meses”, explica. Às vezes também é preciso diminuir o volume com uma escova definitiva, ou mudar a cor. Toda essa produção fica entre 200 reais (somente o corte) e 600 reais (com escova e reflexos). 

O estudante paulistano João Pedro Ramos, 13 anos, não tem receio de dizer que é fã do Restart e que copiou os meninos. Ele conta que procurou, sim, até encontrar o cabeleireiro da banda. “Eu sempre gostei de ter o cabelo diferente e esse visual é bastante incomum”, diz. E o preço? “A sorte foi que minha mãe não achou caro”. 

Para Pe Lu, vocalista e guitarrista da banda, é bom saber que eles são modelo para os garotos mais jovens. “A galera está perdendo a vergonha de ter o cabelo bagunçado, está assumindo o que quer e isso é muito importante nessa fase da vida que é a adolescência”, afirma. “Acho que muitos meninos criaram coragem de ter esse cabelo meio maluco depois que aparecemos assim” afirma o guitarrista Koba.

O cabelo é um componente importante no visual dos músicos. No caso dos Beatles, inclusive. Em sua primeira coletiva na chegada aos Estados Unidos, em fevereiro de 1964, o moptop foi a sensação. “O cabelo de vocês ajuda a cantar?”, questionou um repórter. Outros perguntaram se eles usavam peruca ou se se sentiam como Sansão. 

O moptop teria sido ideia da fotógrafa alemã Astrid Kirchherr. Ela conheceu os Beatles antes da fama, no início da década de 1960, em Hamburgo, na Alemanha. Kirchherr, que fez as primeiras fotos da banda, teve um romance com Stu Sutcliffe (morto antes de os Beatles gravarem seu CD de estreia). Ele teria sido o primeiro a mudar o visual, copiado pelos outros. 

A historiadora carioca Ana Carlota Vita, autora do livro História da Maquiagem, da Cosmética e do Penteado (editora Anhembi Morumbi), afirma que o moptop remete ao cabelo dos pajens medievais. “O moderno é muitas vezes uma volta ao passado”, diz. A especialista em história da moda reconhece o moptop no cabelo do Restart, mas acredita que o penteado também tem influência dos anos 1980 (os mullets, aquele cabelo mais curto na frente e longo atrás como o do Koba) e dos anos 1970 (os fios arrepiados do Pe Lu, que lembram o visual do Sex Pistols). “Essa combinação de referências resultou em um visual alegre, que se identifica com o estilo musical da banda”, afirma. É, identifica até demais.



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