domingo, 3 de julho de 2011

Menina de 15 anos vence câncer e recebe homenagem da banda Restart

Letícia botou na cabeça que iria viver. Ela recebeu a notícia de que teria a perna amputada, mas afirmou que seria feliz de qualquer forma.

O repórter Marcelo Canellas conta uma história para emocionar: a menina de 15 anos que venceu uma batalha contra o câncer e saiu do hospital para realizar um grande sonho.

A filha do meio de Luciana e Amarildo, a estudante Letícia Cerqueira dos Santos, de 15 anos, sempre foi levada da breca. “Todo mundo ficou doido procurando por mim. Foi o bairro inteiro procurando por mim. E eu estava debaixo da cama da minha mãe”, lembra. Isso foi aos 4 anos. “Eu gostava de sair para a rua”, comenta Letícia.

Hoje, aos 15, não desgruda do computador. Ela leva uma vida normal de adolescente apaixonada pela banda Restart. Até o dia em que Letícia começou a sentir algo muito estranho. “Eu pisava e parecia que alguma coisa estava pisando na minha perna. Doendo, doendo”, conta.

Com um simples movimento de corpo para desviar de um cachorro que passava, a dor ficou insuportável. “Ela foi virar, porque ele passou do lado dela, aí a perna dela quebrou sozinha”, lembra Luciana Cerqueira dos Santos, mãe de Letícia.

Os pais levaram a garota ao hospital. A médica tinha uma notícia ruim. “Ela nos chamou e falou que a Letícia estava com um tumor na perna, que era um câncer, e era maligno”, relata a mãe. “A pergunta quem fez foi a minha esposa: ‘doutora, vai ter que amputar a perna da Letícia? Ela só fez um gesto com a cabeça que sim. Nesse momento, eu saí do quarto chorando”, declara Amarildo Barreto dos Santos, pai de Letícia.

No início, eles tentaram esconder a gravidade da doença. “Só que era impossível não olhar para ela e não chorar”, revela Luciana. “Como que eu vou chegar para a minha filha e vou falar que ela vai amputar a perna”.

Quando, enfim, decidiram contar tudo, a reação da filha foi a maior surpresa do mundo. “Eu pensei assim: ‘tem tanta gente que está de cadeira de rodas sendo feliz, trabalhando, fazendo faculdade. Por que não posso ser feliz assim também? Então, com a perna ou sem a perna, para mim tanto faz’”, afirma a jovem.

Letícia botou na cabeça que iria viver. “Falei assim: ‘eu vou passar por isso, mas um dia eu vou vencer isso daí’”, aponta.

A família mudou a garota de hospital. A nova equipe médica via uma chance de salvar a perna dela em uma cirurgia de alto risco. A operação estava marcada, mas a melhor amiga faria 15 anos naquele dia.

Letícia não teve dúvida: “eu insisti com o médico: não tem como você deixar para fazer a cirurgia depois do aniversário para eu poder ir para a festa? Ele falou assim: ‘vamos pensar, Letícia’. Aí eles pensaram e deixaram. Fui à festa de cadeira de rodas, botei o vestido, fiz maquiagem, botei peruca, tudo. Eu fui a última a chegar.”

“Todo mundo aplaudiu”, acrescenta a mãe. “Fizeram homenagem para ela, foi perfeito”, conta Gabriela Pereira, de 15 anos.

Dois dias depois, no dia 7 de dezembro de 2010, Letícia passou pela cirurgia. O osso doente foi retirado e os médicos botaram uma prótese de titânio no lugar. Qual foi o primeiro gesto de Letícia ao acordar da anestesia?

“Procurar minha perna. Aí eu vi que estava tudo anestesiado. Então eu passei a mão e falei: ‘nossa, minha perna, que bom!’”, lembra.

Mas o tratamento estava apenas começando. A doença apareceu também no pulmão. Os pais se desesperaram. Letícia, mais uma vez, surpreendeu a família.

“Eu não gostava que meus pais ficassem chorando, porque eu falava assim: ‘vai passar, mãe, não precisa ficar chorando’. Eu consolava a minha mãe”, diz Letícia.

“Ela era a minha fortaleza”, acrescenta a mãe. “’Vai passar, mãe. Isso aqui é só uma doencinha que veio para atrapalhar, mas vai embora já, já.”

“Nossa! Ela dava uma força terrível: ‘pai, não chora, pai’”, se emociona o pai de Letícia, Amarildo Barreto Santos.

Ao todo, foram 31 semanas de quimioterapia. A última sessão foi na quarta-feira passada. “Ela consegue uma vida normal com a prótese da perna dela. Ela anda normal, pode fazer atividade física normal, uma pessoa sem grandes sequelas”, explica a médica Maura Troiani.

Os médicos vão acompanhar Letícia por um bom tempo até que a certeza da cura se confirme. Mas, para a família, há muito o que comemorar.

“Graças a Deus, hoje Deus deu a vitória para a gente. A batalha foi vencida. Estamos aí com a cabeça erguida, ela está sã, acabou a quimioterapia”, comemora Amarildo.

Quando pensa em comemoração, Letícia tem uma ideia fixa. “Só porque eu passei por esse problema eu não vou desistir do meu sonho. Meu sonho é a minha festa de 15 anos”, conta Letícia.

A mãe impôs uma condição. “’Você só vai ter a sua festa de 15 anos se você não namorar até os 15’”, relata Luciana. “‘Se eu souber que você namorou até os 15 você não vai ter festa de 15 anos.”

“Não cumpri”, ri Letícia.

Coração mole com a filha namoradeira. “Então, não acredita! Eu ganhei o dia do salão, sabe? O dia da princesa, no salão!”, diz Letícia.

Os preparativos começaram. Muito antes de ficar doente, Letícia já pensava em comemorar os seus 15 anos. Mas é claro que muita coisa mudou. Inclusive a ideia do que seja uma festa, como se a vida tivesse de ser diariamente celebrada. Como se cada momento vivido merecesse uma comemoração inesquecível.

A festa, na noite deste sábado (2), em uma chácara perto de Hortolândia, na região de Campinas, correu exatamente como o planejado.

“Terá a entrada de boneca, de sapo, o vestido de princesa que eu acho muito lindo. O meu vestido da valsa é todo prata, ele é todo decorado, feito à mão, a coisa mais linda!”, elogiava Letícia.

Só o que estava fora do script foi um recado da banda Restart feito especialmente para Letícia. “A gente ficou sabendo de toda a sua a história de superação, de força de vontade, de garra. A gente deseja toda a felicidade do mundo para você e espera que você, assim que puder, apareça ao nosso show. É mais que convidada”, diz o vocalista Pe Lanza no vídeo.

Os rapazes mandaram uma caixa cheia de brindes, e Letícia pôde, enfim, desfrutar do maior presente que uma menina de 15 anos poderia receber: a vida pela frente.

“Não desistir do sonho. Nunca”, ensina Letícia. “Eu acho muito linda a festa de 15 anos, a menina ter os 15 anos dela. Por quê? É uma vez só na vida, você vai passar esse momento tão lindo. Então, por tudo o que eu passei, não foi só meus 15 anos, vai ser meu renascimento.”

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